sábado, 14 de junho de 2008

O corpo

O Poder em todas as sociedades está fundamentalmente ligado ao corpo, uma vez que é sobre ele que se impõem às obrigações as limitações e as proibições. É dócil o corpo que pode ser submetido, utilizado, transformado, aperfeiçoado em função do Poder.
Nas civilizações Grega e Romana da Antigüidade o corpo era valorizado pela sua saúde e capacidade atlética. A moral quanto ao corpo e ao sexo apenas estabelecia algumas normas de conduta para evitar os excessos, que significavam a falta de controle do indivíduo sobre si mesmo, prescrevendo o “bom uso” dos prazeres (bebida, comida e sexo).
Cada sociedade, cada cultura age sobre o corpo determinando-o. Surgem, então, os “modelos”: padrões de beleza, de sensualidade, de saúde, de postura que dão “segurança” às pessoas, para que elas tenham “moldes” para se construírem como homens e mulheres. Ao longo do tempo, esses modelos produziram a história corporal.
Manequim 27, rosto fino, magro, estes são algumas características de beleza que modelam, como dito antes, a pessoa perfeita, o que define o belo e o feio.
Em nossa sociedade atual, o conceito de corpo esta diretamente ligado à beleza, quanto mais adjetivos padronizados você ter, mais belo será seu corpo e conseqüentemente você.

Gisele pode até ser a bola da vez, mas nem sempre foi assim. Outras bolas, bem redondas até, já foram as responsáveis por desnortear homens mundo afora. Durante a renascença, as gordinhas abalaram as estruturas com suas fartas curvas. Tinham tanto orgulho das sobras, que as exibiam – sem roupas ou pudor – para que os melhores artistas da época as imortalizassem em pinturas. Cada curva tinha um porquê e atendia a uma necessidade diferente. Se o excesso de gordura garantia uma reserva para a gestação, quadris largos facilitavam o trabalho de parto e seios volumosos eram perfeitos para amamentar. La Bündchen, com seus míseros 52 quilos, distribuídos por 1,79 metros, teria ficado para a titia, encalhada da silva.
O único período em que não existiu um padrão dominante foi na Idade Média. Mas essa fase, em que as mulheres viveram de bem com seus espelhos, não durou muito. Durante o renascimento, voltou a imperar o ideal greco-romano de beleza, que elegeu o equilíbrio das formas como um objetivo a ser alcançado. Nada de mais, e nada de menos, apenas o necessário. E assim foi dada à largada para os regimes, cirurgias plásticas e distúrbios alimentares.
O pintor e escultor colombiano Fernando Botero, pintando gordinhas e gordinhos de bochechas rosadas, ficou famoso por sua releitura dos ideais de beleza do renascimento. Nascido em 1932, Botero trabalhava na contramão da tendência de sua época, que valorizava cinturinhas de pilão, contidas por corseletes e cintas. Parece que o artista apenas antecipou a profusão de campanhas publicitárias que pipocam atualmente. A mais célebre dessas campanhas, da marca Dove, explora a diversidade feminina e busca o belo em variadas formas de expressão. A idéia da campanha da Dove, intitulada “Real Beleza“, surgiu a partir dos resultados de uma pesquisa realizada pela StrategyOne com 3.200 mulheres. A pesquisa avaliou como essas mulheres, compreendidas entre os 18 e 64 anos, e pertencentes a dez países – dentre os quais o Brasil – se sentiam diante do espelho.

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